Trump volta a atacar China e indica retomar tarifa sobre computadores e smartphones

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste domingo que não houve “exceção tarifária” na medida que excluiu smartphones, computadores e outros eletrônicos das sobretaxas em vigor atualmente, de 145% sobre importações da China e de 10% sobre outros países.

Ele disse que esses produtos “estão apenas sendo realocados para uma categoria tarifária diferente”, além de estarem sujeitos à taxa de 20% imposta à China em fevereiro como retaliação pela entrada da droga fentanil.

Horas antes, o secretário de comércio dos EUA, Howard Lutnick, havia afirmado que esses produtos eletrônicos podem ser impactados por tarifas separadas em um mês, o que deu força à impressão da véspera de que as isenções são apenas temporárias.

A lista de exceções foi publicada pela US Customs and Border Protection, a alfândega americana. Além de smartphones, estão isentos laptops, discos rígidos, processadores de computador e chips de memória, entre outros —itens que em geral não são fabricados pelos Estados Unidos.

A medida foi encarada como um possível sinal de alívio em relação à guerra comercial contra a China, grande fabricante desses produtos. O Ministério do Comércio chinês inclusive afirmou que o anúncio constituía um “pequeno passo” e que o país estava “avaliando o impacto” da decisão.

No entanto, o presidente americano disse em sua rede social que o governo está analisando “os semicondutores e toda a cadeia de suprimentos eletrônicos”. “O que foi revelado é que precisamos fabricar produtos nos Estados Unidos e que não seremos feitos de reféns por outros países —especialmente nações comerciais hostis como a China, que fará de tudo ao seu alcance para desrespeitar o povo americano.”

Quando questionado se as tarifas sobre iPhones poderiam “voltar em um mês ou mais”, Lutnick respondeu, durante entrevista ao programa This Week, da emissora de televisão ABC: “Correto. Isso mesmo… Precisamos de nossos medicamentos e precisamos que semicondutores e nossos eletrônicos sejam fabricados na América.”

Os posicionamentos do governo aumentarão a incerteza para as empresas sobre a implementação das tarifas de Trump, que tem sido marcada por uma série de reviravoltas e na semana passada causou uma intensa venda no mercado de títulos do Tesouro dos EUA, avaliado em US$ 29 trilhões.

O investidor bilionário Bill Ackman, que apoiou a candidatura de Trump à presidência, mas criticou as tarifas, pediu no domingo que ele suspendesse as tarifas recíprocas amplas e pesadas sobre a China por três meses, como fez para a maioria dos países na semana passada.

“Se o presidente Trump suspendesse as tarifas sobre a China por 90 dias e as reduzisse temporariamente para 10%, ele alcançaria o mesmo objetivo de fazer com que as empresas americanas transferissem suas cadeias de suprimentos da China sem interrupções e riscos para essas empresas no curto prazo, e ele teria tempo para negociar um acordo com a China”, escreveu Ackman na plataforma X.

Caos
A senadora democrata Elizabeth Warren criticou a última revisão do plano tarifário de Trump, que, segundo economistas, poderia prejudicar o crescimento econômico e alimentar a inflação. “Não há política tarifária —apenas caos e corrupção”, afirmou Warren no programa This Week, da ABC.

Em um comunicado na noite de sexta-feira, a agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA publicou uma lista de códigos tarifários excluídos dos impostos de importação. Ela continha 20 categorias de produtos, incluindo computadores, laptops, unidades de disco, dispositivos semicondutores, chips de memória e monitores de tela plana.

Para as importações chinesas, a exclusão dos produtos de tecnologia se aplica apenas às tarifas recíprocas de Trump, que atingiram 125% esta semana. As tarifas anteriores de 20% de Trump sobre todas as importações chinesas que, segundo ele, estavam relacionadas à crise do fentanil permanecem em vigor.

Em uma entrevista no programa Meet the Press, da NBC, o conselheiro para comércio da Casa Branca, Peter Navarro, disse que os EUA fizeram um convite à China para negociar, mas criticaram sua conexão com a cadeia de fornecimento letal de fentanil e não a incluíram em uma lista de sete entidades —Reino Unido, União Europeia, Índia, Japão, Coreia do Sul, Indonésia e Israel— com as quais, segundo ele, o governo estava em negociações.

“Eles estão fazendo fila do lado de fora da porta da Jamieson Greer”, comentou Navarro, referindo-se ao representante comercial dos EUA.

Greer disse no programa Face the Nation, da CBS, que ainda não há planos para Trump falar com o presidente chinês Xi Jinping sobre tarifas, acusando a China de criar atrito comercial ao responder com suas próprias taxas.

“A única razão pela qual estamos realmente nessa posição agora é porque a China decidiu retaliar”, disse ele.

Ray Dalio, o bilionário fundador do maior hedge fund do mundo, afirmou ao programa Meet the Press da NBC que estava preocupado com a possibilidade de os Estados Unidos entrarem em recessão, ou pior, como resultado das tarifas.

“Neste momento, estamos em um ponto de tomada de decisão e muito perto de uma recessão”, disse Dalio neste domingo. “E estou preocupado com algo pior do que uma recessão se isso não for bem administrado.”

Folha de S. Paulo

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