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Leticia Albuquerque

Formada em Direito pela Universidade Federal da Paraíba, advogada e conciliadora da Justiça Federal da Paraíba.

Instagram: @adv.leticia.albuquerque

Pensamento Acelerado

A vida seria mais tranquila se ela não pensasse tanto.

Aos 44 anos, mãe solo de dois filhos, advogada trabalhista e concurseira, Maria é multitarefada, além de reflexiva e de apresentar um quadro de pensamento acelerado – pensar em várias coisas ao mesmo tempo ou mudar de pensamento com rapidez.

Alimentar os filhos, levá-los para a escola, se encontrar com clientes, fazer as diligências de uma advogada, atuar nas audiências, redigir peças jurídicas, estudar, fazer pilates e crochê estão entre as suas atividades. Cada atividade demanda uma jorrada de pensamentos.

Se vai fazer a comida dos filhos, pensa com antecedência o que será e como fará. Para levá-los para a escola pensa e repensa em qual caminho seria melhor pegar: o mais rápido, porém mais longo ou o mais curto, porém com trânsito. E quando o assunto é trabalho também pensa e repensa qual o melhor argumento para determinado caso, pesquisa leis e jurisprudências e reflete bastante sobre tudo.

No fim da tarde, quando os meninos estão no reforço escolar, Maria encontra algumas horas para estudar. Ter foco e aceitar seu ritmo e processo são situações desafiadoras para quem tem pensamento acelerado. Maria pensa no futuro dos filhos, nos pais já idosos, na relação conflituosa com o irmão, nos perigos do mundo relatados nos noticiários. Naquelas horinhas de estudos por videoaulas, ela só precisava prestar atenção ao que o professor diz e fazer algumas anotações importantes. Maria tenta.

Narrava o professor: “A teoria de José Afonso da Silva sobre a eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais foi refutada pelo próprio filho, Virgílio Afonso da Silva”. Maria logo pensa: Este professor está certo? Seria Virgílio uma pessoa disruptiva ou só queria ganhar fama com a obra do pai ou, ainda, sendo mais positiva, melhorar a obra do pai? Maria ficou imaginando no que sentiria se algum de seus filhos contrariasse sua tese. E até chegou a concordar com o filho de José Afonso sobre a existência de normas constitucionais de eficácia plena. Para Maria, não existe plenitude em nenhum contexto.

Logo mais, Maria ouve o professor falando que o Estado brasileiro é independente e que os entes federados são autônomos. Maria poderia seguir tranquilamente a aula, mas reflete ainda mais sobre as palavras “independência” e “autonomia” e até pesquisa no Google o significado. A primeira ligada à ideia de liberdade e a segunda ligada à “capacidade de governar-se pelos próprios meios”. E logo lembrou do livro “A Teia da Vida”, de Fritjof Capra, o qual nos transmite a ideia de que fazemos parte de um sistema feito por partes interdependentes, então mesmo os Estados no plano internacional dependem um do outro, em insumos, tecnologia, economicamente, etc. Maria também pensa que os seres humanos não são independentes, posto que não existe autossuficiência.

Maria pensa demais. Uma aula de 30 minutos chega a durar uma hora e meia devido as pausas que ela faz para reflexões sobre os conteúdos e as coisas da vida. Isso se não for interrompida por alguém ou alguma circunstância, perdendo rapidamente o foco e ficando aborrecida.

Calma, Maria! A paciência é uma grande virtude!

Maria poderia ser mais objetiva em suas atividades e escolhas. Já perdeu muitas oportunidades por pensar em demasia. Ela já aprendeu. Maria não desiste fácil mesmo com tanto pensamento jorrando em sua cabeça e outras tantas intempéries. Maria quer dar uma vida melhor para os filhos, é uma batalhadora como tantas outras Marias. Ela também acredita em um Deus que não a abandona mesmo quando se atravessa tempestades. Chegará um dia em que Maria agradecerá por tudo ter sido como foi e por tudo ser como é.

Boa sorte, Maria!

* Os textos e vídeos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Paraíba Dia a Dia.

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