Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona.
Instagram: @_marcospires_
Passando pelo bairro da Torre vi uma placa que anunciava: “Consertam-se sombrinhas”. Fiquei imaginando se eventuais clientes não sabem que no Terceirão uma sombrinha nova pode ser comprada por 5 reais. Em seguida pensei no profissional. O que será que ele fará quando os clientes acabarem? Em qual outro ofício poderá utilizar suas habilidades tão específicas?
Há muito tempo fui a uma audiência na cidade de Sumé e conheci um cidadão chamado “Necreto Frandileiro”. Queria saber se aqui na capital eu poderia lhe arranjar um emprego e disse que era desembeiçador de pneus. Não tive coragem de lhe dizer que já existiam maquinas que substituíam sua arte.
O tempo vem eliminando muitas profissões, desde os acendedores de lampiões de gás nas ruas das antigas cidades até os leiteiros. Poderia listar dezenas de profissões, desde os prosaicos arrumadores de pinos de boliche aos linotipistas, mensageiros de telegramas a operadores de telex. Tudo isso já se foi. Agora a ameaça mais imediata é contra os bancários, os caixas de supermercados, agentes de viagem e até taxistas.
Porém, de todas as profissões em extinção, uma em especial me chamou atenção porque eu nem sabia que existia; o ajudante de mentiroso. É sério, pouquíssimas pessoas já tiveram a oportunidade de identificar esse profissional. Nem vou explicar, vou exemplificar. Num dia em que o café da manhã da padaria Bonfim estava especialmente lotado, um fazendeiro do interior do Estado que possui terras no Maranhão, conhecido de Nerivan, puxou uma cadeira sem esperar sem convidado e sentou num canto da nossa enorme mesa. Ao seu lado um homenzarrão, que imaginei ser vaqueiro ou segurança do mal educado, também fez o mesmo. Após um ligeiro constrangimento, ele deitou falação dizendo que era rico e isso e aquilo e que no Maranhão possuía uma fazenda enorme; para se ter uma ideia do tamanho, só na beira da pista ele tinha pra mais de 2 quilômetros de testada. Virou-se para o Leguelhé e pediu confirmação. O galalau prontamente esclareceu: “- Mas essa é a fazenda menor, né? Porque aquela do outro lado da pista tem pra mais de 5 de testada”. Descobri enfim a função do parrudo; servia apenas para dar suporte técnico ao patrão nas mentiras que ele contava.
Com o advento do Google nem mentir se pode mais. Imagino que o ajudante de mentiroso esteja desempregado.
* Os textos e vídeos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Paraíba Dia a Dia.