O governo de Javier Milei, na Argentina, anunciou nesta quarta-feira (14) que deve restringir a imigração. A medida pode afetar a vida da diretora de arte brasileira Ingrid Magalhães, 34 anos, que cursa pós-graduação em cerâmica na Universidad Nacional de las Artes, em Buenos Aires. Diante da crise econômica e do comunicado do decreto, ela considera antecipar o retorno ao Brasil. Mais de 90 mil brasileiros podem ser afetados.
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A paraibana Ingrid, natural da cidade de Guarabira, reside há dois anos no país vizinho e chegou à capital Buenos Aires no fim do governo Alberto Fernández. Ela trabalha em regime home office em uma empresa de publicidade, recebendo o salário em real.
“(O decreto) termina impactando na vida da gente em muitos níveis, tanto no sentimento de estar dentro de um país que olha pra você e vê você como um fardo, e também um sentimento geral das pessoas. Eu sinto o povo da Argentina entristecido, empobrecido. Isso resulta economicamente, tudo ficando mais caro”, disse.
Ela disse que também vê como negativa a obrigação pelo pagamento aos serviços de saúde para os estrangeiros, que vem com o novo decreto a ser publicado. A diretora de arte diz que já usou os serviços de saúde argentinos e que conseguiu ser atendida sem maiores dificuldades. No entanto, o decreto pode trazer empecilhos para acessar os serviços de saúde.
“Eu já usei a saúde pública daqui. Não é tão eficaz quanto a do Brasil, mas consegui ser atendida. Tomei algumas vacinas. Foi simples e rápido. Mas não vamos mais poder usar a saúde pública, vamos ter que pagar a saúde privada, pagar por isso”, ressaltou.
A diretora de arte paraibana contou que somada ao comunicado do decreto, a situação econômica da Argentina contribui para ela repensar se vai ficar no país. Há dois anos, era vantajoso para ela permanecer em solo argentino, já que recebia em real e trabalhava a distância para uma empresa brasileira, podendo comprar produtos argentinos mais baratos pelo câmbio, dada a desvalorização da moeda local. Mas ela conta que isso mudou.
“Como trabalhamos em home office e recebemos em real, não sentimos tanto o impacto da inflação das coisas. Quando Milei ganhou, começamos a ver o preço das coisas aumentarem gradativamente e em uma velocidade mais alta. Só que quando as coisas subiam e o real se valorizava, continuamos a não sentir. Mas notamos que havia uma flutuação muito grande no preço do real e quando caía, conseguimos sentir”, disse.
A ideia de ir para a Argentina se deu por conta dos estudos. Inicialmente, o planejamento era aprender o espanhol como forma de aumentar as habilidades pessoais e também profissionais. Ela destacou ainda que, no início, o plano era permanecer na Argentina com o visto de turista por três meses, como diz a lei do país, aproveitando para mergulhar no estudo do idioma e dos cursos. Por conta das vantagens econômicas iniciais, ela ficou por mais tempo.
“Vim com intuito de aprender a língua, o espanhol, e também fazer um curso. Já que estudava na Argentina, fiz alguns cursos que interessavam para mim, como o de criatividade, em uma escola particular de publicidade. Depois fiz curso de cerâmica, hoje eu faço uma pós-graduação na área”, relatou.
Ela conta também que alugou um imóvel logo no começo da estadia na Argentina, porque isso era pré-requisito para concessão do chamado Documento Nacional de Identidade (DNI), equivalente ao CPF no Brasil, que garantia a permanência além dos três meses.
com G1 PB