Padre Egídio vai passar por cirurgia na mesma semana do julgamento do processo na Justiça

O ex-diretor do Hospital Padre Zé, Padre Egídio de Carvalho Neto, investigado pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público da Paraíba (Gaeco/MPPB) por desvios milionários da unidade de saúde, deve passar por uma cirurgia abdominal nesta quarta-feira (25).

A semana será decisiva para o sacerdote, pois também está previsto para acontecer nesta semana o julgamento dos processos em que o religioso é apontado como o líder e mandante.

Égídio foi alvo da Operação Indignus, que investiga desvios de recursos e doações do Hospital Padre Zé, na Capital.

Entenda
O ex-diretor Padre Egídio de Carvalho Neto e as ex-funcionárias Jannyne Dantas e Amanda Duarte do Hospital Padre Zé, em João Pessoa, são investigados pelo Gaeco por desviar cerca de 140 milhões de reais da instituto de saúde. O religioso se envolveu em um grande escândalo de corrupção que se deu a partir de uma denuncia de roubo de celulares.

Tudo começou após o Padre Egídio realizar uma denuncia na Polícia Civil da Paraíba sobre o furto de alguns celulares que haviam sido doados pela Receita Federal, que culminou na prisão de Samuel Rodrigues Cunha Segundo, ex-funcionário do Hospital. Preso, Samuel delatou o grande esquema de desvios que existiam dentro da instituição de saúde.

Investigação
Conforme o documento, na página 3, o MPPB considera que os atos praticados pelo “esquema” de desvios milionários eram praticados pelos próprios beneficiários e tinham a finalidade de destruir a unidade de saúde. “Os principais beneficiários de desvios milionários praticados por uma Organização Criminosa voltada ao esfacelamento de uma instituição de saúde voltada à garantia da saúde dos mais necessitados”, diz trecho da decisão.

O líder
A decisão, assinada pelo desembargador Ricardo Vital de Almeida da 4ª Vara Criminal da Comarca da Capital, cita que é necessário a prisão de um dos líderes da “organização criminosa” para que o grupo não pratique os atos criminosos novamente. Logo, as investigações apontam que o religioso demonstrou um grande controle sobre a “organização criminosa”. Segundo apurado pelo MPPB, conclui-se com a análise do papel de Egídio, o qual, operando com domínio do fato, demonstra um nível acentuado de periculosidade e controle sobre a organização criminosa.

“A prisão de um dos líderes da organização criminosa é necessária para garantia da ordem pública, ameaçada pela reiteração delitiva de seus membros, bem como para desestruturar o grupo criminoso, que há muito pratica crimes graves, a fim de obstar a continuidade dessas infrações penais em prejuízo da sociedade”, diz trecho do documento.

O Monarca e ditador
Testemunhas ouvidas revelaram, durante depoimento ao Gaeco que o padre Egídio de Carvalho, não gostava de ter suas decisões contestadas e agia como “verdadeiro monarca”, sob pena de severas punições. Na ocasião, o órgão de investigação considerou o religioso como ‘ditador’.

“Concretamente asseverando, muitas das pessoas ouvidas na fase investigatória afirmaram que Egídio funcionava como verdadeiro ‘Monarca’, que não poderia ter contestada suas decisões, sob pena de severas punições. Funcionários do Hospital Padre Zé eram compelidos a acatar as ordens de Egídio, mesmo sabendo que manifestamente ilegais, para não serem prejudicados com uma demissão empregatícia. O perfil de ditador também foi destacado nos depoimentos colhidos, principalmente de que ‘tudo deveria ser do feito dele'”, diz decisão.

A Queda
O Gaeco e o MPPB, cumpriram no dia 17 de novembro, mandados de prisão em desfavor do Padre Egídio, ex-diretor do Hospital Padre Zé, e mais duas ex-funnaciar Amanda Duarte e Janine Dantas. A operação aconteceu na Paraíba e em Pernambuco.

O religioso se apresentou espontaneamente na sede do Gaeco em João Pessoa, após contato dos agentes com os os advogados do padre. Ao passar pela audiência de custódia, a Justiça manteve a prisão de Egídio e ele foi encaminhado para um presídio especial na Capital.

O desvio milionário
De acordo com as investigações do GAECO, o esquema de desvios de recursos públicos é estimado em cerca de R$ 140 milhões. Esses desvios foram operacionalizados através do Instituto São José, responsável pelo Hospital Padre Zé, e da Ação Social Arquidiocesana, e ocorreram entre 2013 e setembro de 2023.

Os atos ilícitos investigados tiveram um impacto devastador em diversos programas sociais essenciais. Entre eles, a distribuição de refeições a moradores de rua, o amparo a famílias refugiadas da Venezuela, apoio a pacientes em pós-alta hospitalar, realização de cursos profissionalizantes, preparação de alunos para o ENEM, cuidados de pacientes com HIV/AIDS, entre outros. Além disso, as operações ilícitas afetaram gravemente o Hospital Padre Zé, comprometendo o atendimento a populações carentes e necessitadas.

Mensagens apagadas
Com a finalidade de se livrar das acusações, o Padre Egídio teria apagado inúmeras mensagens do seu celular antes de estrelar espontânea na sede do Gaeco em João Pessoa, segundo o documento do mandado de prisão.

De acordo com o MPPB, uma grande quantidade de mensagens anteriores a setembro de 2023, foram apagadas, existindo apenas conversas após do dia 5 de setembro de 2023. Além de deletar as mensagens, o investigado também trocou o número do celular durante as investigações.

O Padre Egídio realizou a entrega dos aparelhos junto com seus advogados, momentos depois em que foi deflagrado a Operação Pai dos Pobres, que investiga o sumiço de aparelhos celulares doados para o Hospital Padre Zé, com a finalidade de serem vendidos ou leiloados para arrecadar dinheiro para serem voltados a unidade de saúde.

O que diz a Igreja Católica?
A Arquidiocese da Paraíba, divulgou nota, após a repercussão do caso, afirmando estar consciente de suas responsabilidades e compromisso com a transparência e integridade, e citando que está colaborando com as “integralmente com as investigações em curso, respeitando o segredo de Justiça estabelecido pelas autoridades competentes”.

A respeito de Egídio, a Arquidiocese informou que os procedimentos já foram instaurados. À época o padre foi proibido de realizar missas e eventos religiosos.

“Reforçamos nosso compromisso com a transparência e manifestamos total apoio às autoridades competentes, colaborando de forma irrestrita para que toda a verdade sobre os eventos em questão seja esclarecida”, finaliza a nota.

Gaeco quer que Egídio retorne a prisão
O Gaeco pediu o retorno do padre à prisão. Depoimentos de testemunhas ao órgão indicam o descumprimento das medidas judiciais durante o período de prisão domiciliar do padre.

O réu deixou a prisão em abril de 2024, após passar mal na Penitência Especial do Valentina Figueiredo.

De acordo com informações, inquilinos de imóveis pertencentes ao padre denunciado ao Gaeco que estão recebendo pedidos para que depositem os valores dos alugueis em contas indicadas pelos advogados do religioso.

O pedido que teria sido feito contraria o bloqueio de bens imposto pela Justiça ao padre.

O novo pedido tramita na 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba e tem relatoria do desembargador Ricardo Vital, mas ainda não foi analisado.

O Gaeco argumenta que a liberdade do padre representa um risco à ordem pública e à instrução processual, uma vez que ele teria continuado suas atividades ilícitas mesmo após ser beneficiado com a prisão domiciliar.

com Paraíba.com.br

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