Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona.
Instagram: @_marcospires_
Logo após meus pais contratarem a construção do que seria o maior pesadelo de nossas vidas, a construtora conseguiu ganhar uma concorrência para construir três prédios da então poderosíssima IBM, gigante americana e solenemente abandonou a nossa obra, tocando-a com a barriga. Claro que não poderia dar certo, porque os prazos estavam totalmente furados. Para completar a desgraça a construtora havia descontado as promissórias que meu pai assinara para financiar a construção e com o dinheiro tocara as obras da IBM, que só pagaria pelos seus 3 prédios na entrega dos mesmos. Descobrimos depois que esse detalhe teria sido fundamental para uma construtora de médio porte ganhar a concorrência dos prédios da IBM contra as grandes construtoras brasileiras. Até hoje quando penso no assunto não posso deixar de rir…a grana de enxeridos paraibanos financiando a expansão da poderosa IBM.
Naquele momento meu pai poderia ter interrompido tudo, denunciado o contrato e partido para cima da construtora. Não o fez. Preferiu tocar a obra, mesmo porque o prazo para quitar o empréstimo estava correndo e nenhuma ação judicial teria desfecho a tempo e modo de pagar a grana devida. Para tanto usou o enorme capital de giro da empresa e decidiu que ele mesmo iria ficar à frente da construção. Nunca ninguém foi tão roubado na vida.
Roubaram demais na construção e mais ainda aumentou o prejuízo em virtude da falta de capital para tocar os negócios, que passaram a ser financiados por empréstimos escorchantes na rede bancária. Lembro especialmente de uma tal operação 63 que meu pai foi premido a fazer porque à época tomar dinheiro emprestado com base na variação cambial parecia ser o mais sensato; afinal o dólar permanecia estável há bastante tempo.
No entanto sobreveio a maxidesvalorização cambial e da noite pro dia meus pais passaram a dever aos bancos uma conta impagável. Aquele foi o momento em que começou a debacle.
Nada a ver com nossos supostos gastos e menos ainda com a incapacidade empresarial dos meus pais. Tanto que operaram com enorme sucesso no insipiente ramo imobiliário da época, no então novo conceito de condomínios fechados.
Porém todo o dinheiro que conseguissem ganhar seria pouco para cobrir os empréstimos tomados à rede bancária.
E depois de uma luta insana onde segurei as execuções por mais de dez anos atuando como advogado, perdemos tudo, porém nunca foi decretada a falência da empresa. Os Pires caíram, porém não quebraram.
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