Depois de lançar uma versão do mapa-múndi com o Brasil no centro, no ano passado, o IBGE publicou uma nova edição “invertida”: o país continua no centro, mas agora o Sul Global ocupa a parte superior do mapa. Há versões em português e inglês, e ele pode ser comprado no site do instituto.
A nova edição foi divulgada pelo presidente do IBGE, Márcio Pochamnn, em seu perfil no X. Segundo ele, o lançamento ocorre no ano em que o Brasil tem posição de destaque e participação ativa em fóruns internacionais, ao presidir o BRICS e o Mercosul, além de sediar a COP 30, que ocorrerá em Belém, em novembro deste ano.
“O novo mapa também traz destacados os países que compõe o BRICS, o Mercosul, os países de língua portuguesa e do bioma amazônico, também a cidade do Rio de Janeiro, como capital dos BRICS, a cidade de Belém, como capital da COP 30 e o Ceará como sede do Triplo Fórum”, informou o IBGE, em nota divulgada à imprensa.
A divulgação do mapa foi acompanhada de uma nota técnica, na qual o instituto afirma que “a maior parte do mundo está acostumada a ver a América do Norte no Norte e a América do Sul no Sul, mas essa representação não é a única possível e nem a única que foi registrada durante a história”.
“Não existe uma razão técnica para colocar os pontos cardeais nas direções convencionais e, portanto, a representação tradicional é tão correta quanto a representação invertida”, disse o órgão.
“América invertida”
A construção de um mapa considerado “invertido”, porém, não é nova. O lançamento do IBGE reacende o debate sobre a relação entre cartografia e poder, frequentemente discutida entre especialistas do campo da Geografia. Estudiosos costumam refletir sobre como os mapas não são neutros e representam escolhas políticas, culturais e ideológicas.
Na academia, é comum que especialistas discutam sobre a centralidade da Europa e o predomínio do Norte global nos mapas tradicionais, apontando que essas representações reforçam visões de mundo específicas.
O quadro “América Invertida”, de 1943, do artista uruguaio Joaquín Torres-García, virou símbolo da valorização do Sul global, por contestar projeções tradicionais sob o argumento de que perpetuam hierarquias coloniais e eurocêntricas.
Ele e outros estudiosos defendem que mapas como o de Mercator, muito usado até hoje nas salas de aula, passam uma ideia distorcida do mundo e mantêm antigas desigualdades entre países ricos e pobres.
O Globo