Luiz Pereira

Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais. Bacharel em Direito. Advogado criminalista.

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Desconstruindo mitos: a realidade política na China e na Rússia

Desde o século XX, a China e a Rússia têm sido frequentemente rotuladas como países comunistas. No entanto, uma análise mais profunda revela nuances e mudanças significativas em ambas as nações, desafiando a simplificação desses rótulos. Este texto busca desconstruir o mito de que a China e a Rússia são puramente comunistas, destacando as complexidades políticas, sociais e econômicas que caracterizam esses países.

A Revolução Chinesa de 1949 estabeleceu a República Popular da China, liderada pelo Partido Comunista Chinês (PCC). No entanto, ao longo das décadas, a China passou por mudanças significativas em sua abordagem econômica. O líder Deng Xiaoping introduziu reformas econômicas em 1978, promovendo a abertura ao mercado e a entrada de investimentos estrangeiros. Isso marcou o início de uma transição da economia planificada para uma economia de mercado socialista.

A China contemporânea é caracterizada por uma economia mista, onde o setor privado coexiste com empresas estatais. O país adotou políticas pragmáticas que combinam elementos do socialismo com um vigoroso capitalismo de Estado. A propriedade privada floresceu, as zonas econômicas especiais foram estabelecidas, e a China tornou-se um hub global de manufatura e comércio.

Embora o Partido Comunista Chinês ainda detenha o poder político, a China não se alinha estritamente com os princípios clássicos do comunismo, pois adotou práticas econômicas mais orientadas para o mercado. A ascensão do setor privado e a ênfase no crescimento econômico desafiaram a noção convencional de comunismo puro.

Poe outro lado, a União Soviética, fundada após a Revolução Russa de 1917, era considerada um Estado socialista que se autodenominava comunista. No entanto, em 1991, a União Soviética desmoronou, marcando o fim do socialismo de Estado na Rússia. O país enfrentou uma transição tumultuada para uma economia de mercado.

O presidente russo, Vladimir Putin, emergiu como uma figura central na política russa, consolidando o poder e promovendo um modelo de capitalismo de Estado. Enquanto o Partido Comunista da Federação Russa ainda existe, a Rússia abraçou práticas econômicas que incluem a privatização de empresas estatais e a abertura para investimentos estrangeiros.

A economia russa, ao contrário do modelo socialista clássico, incorpora elementos de capitalismo, com uma classe empresarial privada e mercados financeiros em crescimento. A Rússia contemporânea não se encaixa na definição tradicional de um Estado comunista, mas sim em um sistema onde o Estado exerce forte controle sobre a economia.

Além das mudanças econômicas, fatores sociais e culturais também desempenharam papéis significativos na transformação da China e da Rússia. Ambos os países passaram por um processo de modernização que influenciou as mentalidades e valores da sociedade.

Na China, as reformas econômicas foram acompanhadas por uma abertura cultural gradual. A sociedade chinesa tornou-se mais aberta ao mundo exterior, com influências culturais globais penetrando na vida cotidiana. A China contemporânea é marcada por uma geração jovem conectada globalmente, com aspirações e valores que transcendem os ideais comunistas tradicionais.

Na Rússia pós-soviética, a liberalização cultural seguiu os passos da liberalização econômica. A sociedade russa experimentou uma abertura para diferentes formas de expressão cultural e uma diversificação de perspectivas. A influência ocidental também desempenhou um papel na transformação cultural, desafiando as normas estabelecidas durante a era soviética.

Apesar das mudanças significativas em direção a práticas econômicas mais capitalistas, tanto a China quanto a Rússia mantêm sistemas políticos caracterizados pelo autoritarismo e forte controle estatal. O Partido Comunista Chinês exerce um controle rígido sobre a política e a sociedade, reprimindo dissidências e limitando a liberdade de expressão.

Da mesma forma, na Rússia, o governo de Putin é frequentemente criticado por práticas autoritárias, restrições à liberdade de imprensa e oposição política. Apesar das características capitalistas em suas economias, ambas as nações continuam a manter um controle firme sobre o poder político, levantando questões sobre a verdadeira natureza de seus sistemas políticos.

Rotular a China e a Rússia exclusivamente como países comunistas não captura a complexidade de suas realidades políticas. Ambas as nações passaram por transformações significativas em direção a modelos econômicos mais orientados para o mercado, enquanto mantêm sistemas políticos autoritários. O contexto social, cultural e político desafia a noção simplista de comunismo puro, destacando a importância de uma análise mais nuanciada para compreender a evolução dessas potências globais.

* Os textos e vídeos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Paraíba Dia a Dia.

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