Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona.
Instagram: @_marcospires_
Talvez os leitores lembrem de uma estória que contei sobre um americano que chega numa pequena cidade, procura a pensão xexelenta e adianta mil reais por um mês de aluguel pelo único quarto existente. Na sequencia o dono da pensão vai até o supermercado e quita sua dívida de exatos mil reais. Por sua vez o dono do supermercado vai até o açougue e paga o que deve, no mesmíssimo valor. Segue-se uma sequencia de devedores pagando aos seus fornecedores até que a dona do cabaré recebe dos donos da farmácia os mil reais que eles deviam à custa de frequentarem suas moças. Ela vai à pensão onde periodicamente alugava aquele mesmo quarto do americano para exercer seu mister e quita sua dívida no valor de mil reais. Logo em seguida o americano procura o dono da pensão, diz que não pode ficar ali, pega seus mil reais que dera para pagar antecipadamente o aluguel do quarto e vai embora.
Esse é um exemplo rápido e rasteiro da única forma da economia funcionar; sempre com o dinheiro circulando. Não havendo circulação do dinheiro todo mundo perde, até o governo que deixa de arrecadar impostos.
Pois muito que bem; o Banco Central, a Febraban e muitos outros organismos vem alertando para o rombo que essas BETs estão causando na circulação da grana no Brasil. É de mais de 20 bilhões por mês a sangria. Dados desta semana indicam que só do bolsa família saem 3 bilhões mensalmente para as BETs. É dizer que de cada 5 reais recebidos do governo as famílias carentes estão desperdiçando 1 real com esses jogos.
Se bem medido e bem pesado estamos tratando de mais de 200 bilhões de reais retirados da economia nacional. Atenção; refiro-me a uma grana que deixou de circular, ou seja, ficou mais difícil para o dono da pensão pagar ao dono do supermercado a sua dívida e assim por diante.
Acresça-se a isso o fato das famílias mais carentes não somente caminharem para uma nova onda de inadimplência como perderem poder de compra, diminuindo a comida em suas mesas e outros que tais. Tirante essa tragedia que se aproxima, não me convenci até agora que existam mecanismos para controlar a lavagem de dinheiro sujo por parte das quadrilhas e traficantes nessa modalidade de “sorte”.
Porém nossos pressurosos políticos estão azeitando a máquina. Sequer pensaram em concentrar na Caixa Econômica, que já opera as loterias, a possibilidade do monopólio dessa jogatina, talvez como medo da eficiência da CEF não permitir que eles…vocês sabem, né?
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