Por muito tempo, bastava uma sanfona, uma zabumba e um triângulo para fazer o forró acontecer. Mas, como toda manifestação viva da cultura popular, o forró evoluiu. E não apenas por questões artísticas, mas também por força do mercado. Do tradicional pé de serra aos beats eletrônicos do piseiro, a trilha sonora do São João nordestino se diversificou para alcançar novos públicos e se manter viável nas grandes festas, sem perder suas raízes.
Mas como surgiu o forró?
O forró nasceu dos bailes populares que aconteciam no fim do século XIX, eventos que recebiam nomes como forrobodó, forrobodança ou forrobodão. Essas festas ocorriam em espaços rústicos, de chão batido, onde era preciso molhar o solo antes da dança começar, para evitar que a poeira atrapalhasse o arrasta-pé.
Aliás, foi justamente essa forma de dançar — com os pés deslizando sobre a terra — que originou os termos rastapé e arrasta-pé. Há também conexões entre esse estilo de dança e rituais indígenas, como o toré, onde os participantes arrastam os pés durante momentos cerimoniais. O forró, com o tempo, foi absorvendo elementos de culturas portuguesas, holandesas e das danças de salão vindas da Europa.
A palavra “forró”, no entanto, só começou a ser usada com mais frequência a partir dos anos 1950. Em 1949, Luiz Gonzaga lançou a música “Forró de Mané Vito”, composta com Zé Dantas, marcando o início da popularização do termo. Já em 1958, a faixa “Forró no Escuro” ajudou a firmar o nome como gênero musical. Apesar da força do trabalho de Gonzaga, foi a intensa migração de nordestinos para outras regiões do Brasil — especialmente nas décadas de 1960 e 1970 — que espalhou o forró pelo país. Hoje, o ritmo é celebrado de norte a sul, com destaque especial no dia 13 de dezembro, aniversário do eterno Rei do Baião.
Mas ele também passou (e passa) por mudanças…
Com o tempo, o forró passou a ser diretamente associado a três gêneros musicais: o xote, o xaxado e o baião. Nesses estilos, o som é marcado pela presença da sanfona, do triângulo e da zabumba — instrumentos que compõem o chamado forró tradicional, ou forró pé-de-serra.
A partir da década de 1980, esse cenário começou a mudar. Novos instrumentos, como a bateria, o baixo e a guitarra elétrica, foram incorporados às bandas. A sonoridade do forró passou, então, a refletir também as transformações culturais e tecnológicas que começavam surgir à época.
Desdobramentos do forró: universitário, eletrônico e estilizado
Durante os anos 1990, o forró passou por mais uma renovação. Grupos começaram a incluir teclados, saxofones e outros elementos eletrônicos em suas apresentações. Ao mesmo tempo, a tradicional zabumba foi deixada de lado por algumas dessas formações. Esse novo estilo ficou conhecido como forró eletrônico ou forró estilizado. Embora tenha feito sucesso comercial, foi alvo de críticas por parte dos mais conservadores, que viam a mudança como uma descaracterização do forró original.
Já nos anos 2000, o gênero ganhou uma nova cara com o surgimento do forró universitário. A proposta era unir a pegada tradicional do ritmo com uma roupagem moderna, voltada especialmente para um público mais jovem, presente nos centros urbanos e universidades.
Uma nova febre musical chamada piseiro
Nos últimos tempos, um novo ritmo conquistou as festas juninas e as playlists digitais: o piseiro. Originado da pisadinha e influenciado diretamente pelo forró eletrônico, o piseiro se firmou com batidas eletrônicas, letras que falam do cotidiano e uma energia que convida à dança. Grupos como Barões da Pisadinha e artistas como Zé Vaqueiro são alguns dos expoentes desse movimento que nasceu no interior do Nordeste e rapidamente se espalhou por todo o Brasil.
Mesmo deixando de lado a sanfona tradicional e apostando em teclados e bases digitais, o piseiro conserva uma forte conexão com o forró, principalmente nas temáticas que retratam o amor, a vida simples e os valores do sertão. Para muitos, trata-se apenas de uma evolução natural do forró, como já havia ocorrido em décadas anteriores. Já para os mais conservadores culturais, o piseiro representa mesmo um novo gênero, justamente por se distanciar da instrumentação clássica do pé-de-serra.
Independentemente da classificação, o piseiro já se firmou como uma das sonoridades que vão inovando a musicalidade das festas juninas. É a prova de que a música nordestina continua viva, pulsante, mas também ainda em constante transformação.
Portal Correio