Raquel Ataíde

Nutricionista, doutora em Ciências da Nutrição, professora e palestrante da área de desempenho esportivo e doenças crônicas como obesidade e diabetes.

CRN: 8290

Instagram: @raquell.ataide

Diabetes tipo 2 e saúde intestinal: a influência da microbiota no controle glicêmico

A relação entre saúde intestinal e diabetes tipo 2 (DM2) tem sido cada vez mais explorada pela ciência. Evidências indicam que a microbiota intestinal exerce um papel crucial na regulação da glicemia, da inflamação e da resistência à insulina.

Nesta matéria, vamos explorar como o equilíbrio do intestino pode ser uma estratégia inovadora para o manejo do DM2.

Microbiota intestinal e resistência à insulina
A microbiota intestinal é composta por trilhões de micro-organismos que influenciam a digestão, a produção de metabólitos e a integridade da barreira intestinal. Estudos recentes demonstram que indivíduos com DM2 apresentam alterações na composição dessa microbiota, com redução de bactérias benéficas e aumento de micro-organismos pró-inflamatórios.

Uma das principais vias de influência da microbiota na resistência à insulina é a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como o butirato. Esses metabólitos têm efeito anti-inflamatório, melhoram a sensibilidade à insulina e contribuem para a integridade da mucosa intestinal. Pacientes diabéticos frequentemente apresentam menor produção de AGCC, o que pode comprometer o controle glicêmico.

Disbiose e a inflamação crônica no DM2
A disbiose intestinal, um desequilíbrio na composição da microbiota, está associada ao aumento da permeabilidade intestinal. Isso permite que toxinas, como lipopolissacarídeos (LPS), entrem na corrente sanguínea e induzam um estado inflamatório sistêmico. Esse processo contribui diretamente para o agravamento da resistência à insulina e para a piora do quadro metabólico no DM2.

Um estudo publicado na Nature Medicine (2023) demonstrou que indivíduos diabéticos apresentam níveis elevados de LPS no sangue, levando à ativação do sistema imunológico e ao aumento da inflamação subclínica. Essa inflamação contribui para o ganho de peso, a deposição de gordura visceral e a disfunção das células beta pancreáticas.

Probióticos e prebióticos no controle glicêmico
Os probióticos (micro-organismos vivos benéficos) e os prebióticos (fibras que alimentam as bactérias benéficas) têm mostrado efeitos promissores na melhora da microbiota intestinal e no controle da glicemia.

  • Probióticos: Lactobacillus e Bifidobacterium são os gêneros mais estudados, demonstrando melhora na sensibilidade à insulina e na redução dos marcadores inflamatórios.
  • Prebióticos: Frutooligossacarídeos (FOS) e inulina favorecem o crescimento de bactérias produtoras de butirato, reduzindo a resistência à insulina.

Uma revisão publicada no Diabetes Care (2024) concluiu que a suplementação com probióticos específicos pode reduzir significativamente a hemoglobina glicada (HbA1c) e melhorar o perfil lipídico em pacientes com DM2.

  • O papel da dieta na saúde intestinal e no DM2
    A alimentação tem um impacto direto na composição da microbiota intestinal. Estratégias nutricionais que favorecem o equilíbrio da flora intestinal incluem:
  • Aumento da ingestão de fibras solúveis (aveia, leguminosas, frutas, vegetais verdes) para promover a fermentação intestinal e a produção de AGCC.
  • Redução do consumo de ultraprocessados, ricos em emulsificantes e adoçantes artificiais, que podem prejudicar a microbiota.
  • Ingestão de alimentos fermentados, como kefir, iogurte natural e chucrute, que fornecem bactérias benéficas.
  • Moderação no consumo de gorduras saturadas e açúcares refinados, que podem estimular o crescimento de bactérias pró-inflamatórias.

Um estudo conduzido pela American Journal of Clinical Nutrition (2024) demonstrou que uma dieta rica em fibras e pobre em ultraprocessados melhora a diversidade da microbiota intestinal e reduz a inflamação em pacientes com DM2.

Novas Abordagens Terapêuticas Baseadas na Microbiota
Com o avanço da ciência, estratégias inovadoras estão surgindo para modular a microbiota intestinal como parte do tratamento do DM2:

  • Transplante de Microbiota Fecal (TMF): Estudos indicam que a transferência de microbiota de doadores saudáveis para pacientes diabéticos pode melhorar a resistência à insulina.
  • Simbióticos e pós-bióticos: Combinações de probióticos e prebióticos potencializam os efeitos positivos da microbiota no metabolismo.
  • Modulação farmacológica da microbiota: Novas terapias buscam atuar diretamente sobre o perfil microbiano intestinal para reduzir a inflamação e melhorar a resposta à insulina.

Conclusão
A conexão entre a microbiota intestinal e o diabetes tipo 2 abre novas possibilidades terapêuticas para o controle glicêmico e a melhora da resistência à insulina. Estratégias nutricionais que favorecem o equilíbrio da flora intestinal podem ser um grande diferencial no manejo do DM2. A adoção de uma dieta rica em fibras, aliada ao uso de probióticos e prebióticos, representa uma abordagem promissora e acessível para melhorar a saúde metabólica.

O futuro da nutrição no tratamento do DM2 passa pelo conhecimento e pela modulação da microbiota intestinal, tornando-se um campo de pesquisa essencial para otimizar os resultados clínicos dos pacientes.

Em parceria com a Nutricionista Louhana Araújo

* Os textos e vídeos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do Portal Paraíba Dia a Dia.

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