Nutricionista, doutora em Ciências da Nutrição, professora e palestrante da área de desempenho esportivo e doenças crônicas como obesidade e diabetes.
CRN: 8290
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A relação entre saúde intestinal e diabetes tipo 2 (DM2) tem sido cada vez mais explorada pela ciência. Evidências indicam que a microbiota intestinal exerce um papel crucial na regulação da glicemia, da inflamação e da resistência à insulina.
Nesta matéria, vamos explorar como o equilíbrio do intestino pode ser uma estratégia inovadora para o manejo do DM2.
Microbiota intestinal e resistência à insulina
A microbiota intestinal é composta por trilhões de micro-organismos que influenciam a digestão, a produção de metabólitos e a integridade da barreira intestinal. Estudos recentes demonstram que indivíduos com DM2 apresentam alterações na composição dessa microbiota, com redução de bactérias benéficas e aumento de micro-organismos pró-inflamatórios.
Uma das principais vias de influência da microbiota na resistência à insulina é a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como o butirato. Esses metabólitos têm efeito anti-inflamatório, melhoram a sensibilidade à insulina e contribuem para a integridade da mucosa intestinal. Pacientes diabéticos frequentemente apresentam menor produção de AGCC, o que pode comprometer o controle glicêmico.
Disbiose e a inflamação crônica no DM2
A disbiose intestinal, um desequilíbrio na composição da microbiota, está associada ao aumento da permeabilidade intestinal. Isso permite que toxinas, como lipopolissacarídeos (LPS), entrem na corrente sanguínea e induzam um estado inflamatório sistêmico. Esse processo contribui diretamente para o agravamento da resistência à insulina e para a piora do quadro metabólico no DM2.
Um estudo publicado na Nature Medicine (2023) demonstrou que indivíduos diabéticos apresentam níveis elevados de LPS no sangue, levando à ativação do sistema imunológico e ao aumento da inflamação subclínica. Essa inflamação contribui para o ganho de peso, a deposição de gordura visceral e a disfunção das células beta pancreáticas.
Probióticos e prebióticos no controle glicêmico
Os probióticos (micro-organismos vivos benéficos) e os prebióticos (fibras que alimentam as bactérias benéficas) têm mostrado efeitos promissores na melhora da microbiota intestinal e no controle da glicemia.
Uma revisão publicada no Diabetes Care (2024) concluiu que a suplementação com probióticos específicos pode reduzir significativamente a hemoglobina glicada (HbA1c) e melhorar o perfil lipídico em pacientes com DM2.
Um estudo conduzido pela American Journal of Clinical Nutrition (2024) demonstrou que uma dieta rica em fibras e pobre em ultraprocessados melhora a diversidade da microbiota intestinal e reduz a inflamação em pacientes com DM2.
Novas Abordagens Terapêuticas Baseadas na Microbiota
Com o avanço da ciência, estratégias inovadoras estão surgindo para modular a microbiota intestinal como parte do tratamento do DM2:
Conclusão
A conexão entre a microbiota intestinal e o diabetes tipo 2 abre novas possibilidades terapêuticas para o controle glicêmico e a melhora da resistência à insulina. Estratégias nutricionais que favorecem o equilíbrio da flora intestinal podem ser um grande diferencial no manejo do DM2. A adoção de uma dieta rica em fibras, aliada ao uso de probióticos e prebióticos, representa uma abordagem promissora e acessível para melhorar a saúde metabólica.
O futuro da nutrição no tratamento do DM2 passa pelo conhecimento e pela modulação da microbiota intestinal, tornando-se um campo de pesquisa essencial para otimizar os resultados clínicos dos pacientes.
Em parceria com a Nutricionista Louhana Araújo
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