Mais uma vez, a Seleção Brasileira ficou a um passo de conquistar o ouro do futebol feminino de uma edição de Jogos Olímpicos. Depois de uma campanha com vitórias memoráveis contra rivais favoritas, a equipe verde-amarela entrou no gramado do Parque dos Príncipes para lutar pelo topo do pódio contra os Estados Unidos. Mas, repetindo as edições de Atenas-2004 e Pequim-2008, a Amarelinha teve de se contentar com a prata. Com gol de Mallory Swanson, as norte-americanas venceram, por 1 x 0, e encerraram a campanha irretocável com 100% de aproveitamento e a medalha dourada na Cidade Luz.
A missão da Seleção era tão complexa como a caminhada até a final em Paris. Time de melhor campanha do torneio olímpico, os Estados Unidos ganharam de todos os adversários: Zâmbia, Alemanha (duas vezes, uma delas na semifinal), Austrália e Japão não contiveram a força das americanas. As rivais, inclusive, haviam sido vazadas apenas duas vezes. Mas, após eliminar favoritos como França e Espanha no mata-mata, o Brasil não se intimidou e entrou em campo disposto a igualar forças com as adversárias.
No primeiro tempo, a missão teve êxito. O Brasil teve as melhores oportunidades, incluindo um gol anulado por impedimento de Ludmila. A equipe verde e amarela ainda exigiu duas defesas da goleira Naeher. Os Estados Unidos também chegaram, mas não causaram grandes preocupações para Lorena Leite. O zero, porém, teimou em permanecer no placar. Na etapa final, a equipe de Arthur Elias apresentou sintomas de desorganização e foi punida com gol de Swanson.
Autora do gol do título dos Estados Unidos no Parque dos Príncipes, Mallory Swanson é inimiga íntima de metade das convocadas da Seleção Brasileira. A atacante do Chicago Red Stars costuma enfrentar Kerolin, Adriana, Marta, Angelina, Lauren, Tarciane e Rafaelle nos gramados da National Women’s Soccer League, a primeira divisão de futebol feminino do país. Ainda nesta temporada, ela se tornará companheira de Ludmila, recém-contratada pela franquia.
A final do torneio feminino de futebol nos Jogos de Paris-2024 também marcou o encontro entre as seleções dos países que estarão em evidência no próximo ciclo. Daqui a três anos, o Brasil receberá a primeira edição de Copa do Mundo Feminina na América do Sul. A competição pode ser a primeira de alto quilate da Amarelinha sem a Rainha Marta, única mulher não norte-americana a jogar três decisões olímpicas. Os Estados Unidos estão nos preparativos para receberem a versão de 2028 da Olimpíada, em Los Angeles.
O jogo
Arthur Elias orquestrou a equipe no esquema 3-4-3 para beneficiar os avanços de Yasmin e Adriana como alas pela esquerda e pela direita. O Brasil foi superior durante a primeira etapa. Reteve mais a bola, com 56% de posse contra 44% das americanas. A Amarelinha finalizou nove vezes na direção do gol defendida por Naeher, duas delas foram chances de claríssimas, como a da chegada de Ludmilla cara a cara após tabela com Jheniffer, no primeiro minuto. A camisa 14, porém, bateu fraco e rasteiro. Outra boa oportunidade veio nos acréscimos, quando a brasiliense Gabi Portilho aproveitou cruzamento pela direita para bater de primeira e forçar a arqueira americana a evitar o problema.
Apesar do domínio brasileiro, os Estados Unidos tiveram momentos de imposição. A técnica britânica Emma Hayes subiu as linhas da equipe e buscou aproveitar os lançamentos em velocidade, nas costas das laterais brasileiras. O esquema brasileiro no 3-4-3 transformava-se em um 4-4-2 na transição para a defesa. A melhor oportunidade de gol das então tetracampeãs olímpicas foi com Mallory Swanson, após vencer Adriana na corrida pela direita e chutar cruzado para Lorena espalmar.
Na volta do intervalo, o pilhado Arthur Elias promoveu mudança para tornar o time mais ofensivo. Abriu mão da segurança defensiva de Vitória Yaya para ter a qualidade do passe e mais criatividade com Ana Vitória. No entanto, a alteração expôs o setor e, aos 11 minutos, os Estados Unidos armaram jogada rapidamente, lançaram para a atacante Mallory Swanson avançar com extrema liberdade pela ponta esquerda, chutar cruzado e inaugurar o marcador. Com o cenário desfavorável, o dono da prancheta verde-amarela não pensou duas vezes para colocar Marta em campo.
A Rainha deu mais qualidade na saída de bola e opção ofensiva. Porém, sozinha, não conseguia furar o bloqueio norte-americano. Após o gol, a equipe brasileira ofereceu espaços, arriscou tomar o segundo gol. Embora tivesse maior posse bola, não conseguia converter a superioridade no índice em bolas na rede. A melhor chance foi com Gabi Portilho e Adriana nos acréscimos. A brasiliense invaidu a área pela esquerda, cortou para direita e chutou travado. Adriana ficou com o rebote, cabeça colocado no canto, mas Naeher salvou o que seria o empate brasileiro.
Hall das medalhistas
A terceira prata do Brasil em decisões de Jogos Olímpicos contra os Estados Unidos isola ainda mais as norte-americanas como as maiores medalhistas das oito edições do torneio. Em cinco delas, as principais algozes das brasileiras ficaram no topo do pódio. Noruega, Alemanha e Canadá foram os únicos países capazes de interromper a dinastia. Além do segundo lugar de Paris-2024, a Seleção tem outros dois vices (Atenas-2004 e Pequim-2008). O time nacional perdeu a decisão do bronze e ficou fora de pódio em Atlanta-1996, Sydney-2000 e Rio de Janeiro-2016.
Correio Braziliense